Qualquer coisa
Fica parado à porta e eu nem vejo, estou de costas fazendo coisas como escrever, limpar cinzeiros ou olhar o céu pela janela. Fica parado à porta uma porção de tempo, e eu nem vejo, mas dura pouco. Em seguida algum toque quente como um olhar fixo começa a me queimar a nuca, então abandono o que estou fazendo, seja o que for, e não sei bem se me volto lenta ou rapidamente, para surpreendê-lo no momento exato de baixar os olhos e afastar a mão apoiada na parede, como se recém chegasse e estivesse parado ali uma porção de tempo, olhando. Sei que está azul, ou verde, ou branco, talvez os três juntos, talvez outros ainda, talvez nenhum: mas me volto rápida ou lentamente, e nesse movimento qualquer coisa que tenho entre as mãos cai ao chão, e antes de dizermos qualquer coisa há a necessidade quase milenar de curvar-se para apanhar o objeto caído, um livro, um cigarro, provavelmente uma estrela. E só depois ou durante o tempo em que vêm subindo no ar as mãos douradas segurando essa coisa qualquer é que nos olhamos e começo a entrar no mar sem medo antigo, e pela primeira vez, a água não parece fria nem escura, nem arde nos olhos quando mergulho(…)
O texto na íntegra está aqui.
E para saber mais sobre o autor de Morangos Mofados, visite este site aqui.
2 comentários