Me rendi e passei um dia inteiro no ambiente virtual do Second Life, de rolê, para ver o que acontece. Gostei do que vi, mesmo achando que falta um pouco mais de ação (entenda violência). Sei lá, acho que joguei GTA demais… Mas logo descobri que já existem armas, aí fiquei mais tranquilo.
Primeiro, tive que dar duro dançando por horas em uma casa noturna qualquer para levantar alguns trocados. Tudo para que eu pudesse confeccionar uma mísera camiseta. E a indústria da moda virtual move uma grana violenta por ali. De cada dez habitantes que eu trombei, dois estavam parados, de braços abertos, alterando sua aparência. Chove “poser” no SL. E quase não tem gordos, anões ou gente feia por lá. Mas meu plano não era ser fashion. Era virar uma espécie de super-herói. Já que voar, por ali, é mais prático que andar.
Aproveitei para levantar mais uns trocados também, por precaução. Já que, pelo visto, o maior problema do mundo virtual é descolar um emprego. Por 10L (o Lindem, a moeda local) você consegue fazer um upload. Com a textura pronta e postada. Pude me fantasiar de Black Shazam e fugir das opções padrão de aparência. Se bem que meu plano era tingir a carcaça do avatar de verde….
Outra boa maneira de descolar grana é achar algum lugar que pague para você não fazer nada. Tipo: sentar num puff por 5 minutos rendem 1L$. Parece pouco. Mas quando cheguei no local tinha uma espécie de fila para descolar assento. E a lei por ali é “foi à feira, perdeu a cadeira”. Fazer nada dá grana mesmo, tinha gente ali com mais de 200L$… Pela cotação de hoje, uma doleta vale L$ 269. O emprego dos sonhos existe.
Logo de cara notei que quase todos os locais parecem um shopping center. Há lojas e mais lojas com infindáveis produtos. Que vão de camisetas à helicópteros. De uniformes de super-herois à asas que se mexem ou avatares de coelho. O SL parece um shopping. Fato. Então faça as contas aí. Nem quis checar preços de ilhas, casas ou veículos. Como tudo ali vale L$ (ou seja, US$), em breve, o PIB do SL vai ultrapassar o do Brasil. Só para você ter uma idéia, dá uma sacada no preço dos uniformes de super-herói:
Depois de dar um belo rolê tentando entender o que se passa nesse planeta, fui conversar com alguns brasileiros. Ao chegar na popular Ilha Brasil [Brasil (73, 122, 26] vi que a praça principal do lugar parece a estação Tietê aqui de São Paulo. Uma porrada de gente. E a maioria perdida. E uma horda de novatos, ainda descobrindo os recursos do SL. Vi gente perguntando “E aí, mas qual é o objetivo desse jogo?”… Sem comentários. A segunda vida é um jogo sem objetivos definidos, meu chapa. Você faz o que você quiser.
E no meio de tantos perdidos, não consegui resposta alguma, a maioria ainda queria saber como se ganha L$ sem gastar R$. No meio de tanta gente perdida também trombei com pessoas oferecendo emprego. E como acontece por aqui, você tem que pagar algo primeiro para então ter o emprego. No caso, a “taxa de adesão”, segundo os empregadores locais, era para a compra de um uniforme. Para então você sair vendendo roupas em troca de uma comissão igualmente miserável, sem salário fixo e sem horário fixo. Pulei fora no ato. Ser escravizado virtualmente por alguns trocados não era meu objetivo ali. Isso me lembrou muito aquele esquema das falsas agências de emprego, onde você tem que pagar para ser entrevistado. É, nem o SL escapou da pilantragem.
E nem dos marketeiros. Logo de cara, ao pisar na ilha, já vem gente te dando celular virtual de graça, flyer de festa, gente oferencendo drogas, armas e veículos. Muita informação em pouco tempo. Resolvi picar a mula para conhecer a tão falada favela do SL [Ilha Riot (37, 192, 21)]. Chegando lá, uma cena inédita. Uma favela vazia. Sem crianças brincado na rua. E sem ninguém no botequim. Nada acontece por lá.
Zarpei pra Copacabana [KGBR07 (167, 246, 22)]. E, além de uma ou outra loja, o lugar ainda está bem vazio e não tem muita coisa para fazer por ali. Zarpei de novo.
Continua…
Deixe um comentário